terça-feira, 2 de junho de 2009

QUEM FALA O QUE QUER...

Em um artigo anterior, comentei algo que li no informativo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, atribuindo aos ex-dirigentes da era FHC a responsabilidade pela política de alto spread nas operações do Banco do Brasil. Naquele texto questionei a autoridade da Diretoria Executiva do BB, eis que, segundo o sindicato, por incompetência ou conivência, era permitido o exercício do poder aos ex-dirigentes. Logo depois da publicação, Lula demitiu o presidente do banco, justamente atribuindo a ele a responsabilidade daquilo que o sindicato havia apontado como resquícios do governo anterior. Ficou feio, sem dúvida.
Faço esse comentário, pois recebo alguns e-mails de leitores questionando minhas intenções em criticar tanto o atual governo. Em um artigo mais antigo, abordei os desmandos nos fundos de pensão das estatais, citando o exemplo do Portus, instituição responsável pelos benefícios suplementares dos portuários. Recebi uma mensagem, considerando como exagero minhas colocações, pois ocorreram apenas alguns equívocos em aplicações daquele fundo. Recomendo a leitura de uma matéria de capa da revista Carta Capital, de 20 de março de 2002, para que se tenha idéia do rombo causado ao patrimônio dos trabalhadores portuários, em mais de R$ 220 milhões (em um fundo com patrimônio total inferior a R$ 1 bilhão).
A partidarização da análise política ou econômica leva a equívocos como esse, de procurar enquadrar ideologicamente o que na verdade é argumento. A livre opinião deve sempre ser respeitada, razão pela qual considero a interação com os leitores essencial, seja ela um elogio ou uma crítica. Mas buscar motivos subterrâneos para a motivação de um cronista é ir além da conta. Passei oito anos criticando os desmandos de Fernando Henrique Cardoso. Como advogado, patrocinei causas contrárias à intervenção na Previ e buscando preservar os interesses dos trabalhadores portuários.
Pouco importa se o pin preso na lapela do executivo ou do agente político tem uma estrela vermelha ou um tucano, o que realmente interessa é o zelo pela coisa pública e pelo patrimônio de terceiros. Critiquei o presidente da Anapar, associação que representa os associados aos Fundos de Pensão, por exercer concomitantemente o cargo de diretor da Previ, e hoje sou testemunha do excelente e responsável trabalho deste dirigente em ambos os cargos. Embora continue acreditando em eventuais conflitos de interesse em algum momento, reconheço que, até agora, o referido dirigente faz uma incansável defesa dos interesses dos participantes da Previ.
O que é inadmissível é a dicotomia contra ou a favor se tornar regra. Se você critica, é de oposição, se apóia, é da situação. A publicidade oficial, que custa bilhões de reais, já se encarrega se divulgar os acertos, reais ou supostos. Cabe à imprensa, divulgar os erros, sob pena de repetirmos os erros do passado ou de nos tornarmos vítimas da ditadura da informação.

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