terça-feira, 14 de julho de 2009

POPULARIDADE PERIGOSA

Os recentes comentários de Lula, tanto em relação à Sarney como em relação a Kadafi, ditador da Líbia, me levam a acreditar que a popularidade inigualável do nosso Pequeno Timoneiro lhe faz mal. Lula começou a acreditar que pode falar o que bem entender que isso significa a voz de uma nação. Afinal, se mais de 80% da população o aprova, discordar dele é discordar do Brasil. Considerar a crise do Senado como factóide da oposição e que Sarney deve ser tratado como cidadão especial (diferentemente dos 80% dos brasileiros que o aprovam) pode ser creditado à necessidade de garantir o apoio do PMDB (uma gangue apelidada de partido) para sua candidata.
Mas as declarações feitas na condição de chefe de Estado sobre as eleições do Irã e sobre o ditador da Líbia ultrapassam os limites do aceitável. Ou Lula vive em outro planeta ou está sofrendo de algum problema sério. Lula construiu sua imagem política afirmando que Sarney foi o chefe do governo mais corrupto da história do Brasil, mostrando sempre indignação para com a fisiologia política, manifestando seu inconformismo com os políticos corruptos (os 300 picaretas) e, hoje, deixa claro que tudo aquilo não passou de arroubos de oposição. O poder corrompe e no caso de Lula corrompeu absolutamente.
Como chefe de Estado, Lula bota em xeque a imagem do país no exterior. Interpretando como salvo conduto a frase de Obama ("He is the man"), Lula perdeu todos os limites do bom senso e do ridículo. Esquece a irrelevância do Brasil no cenário político e militar internacional e sai disparando absurdos que nada têm a ver com a posição adotada por nossa diplomacia em mais de 100 anos. Esquece nosso Mao Tsé Tung tupiniquim que a Bolívia e o Equador riem do Brasil e nos enfrentam como se fôssemos Honduras. Em todas as negociações com a Argentina sempre cedemos, mesmo sabendo que basta uma batida de pé para deixar os hermanos em pânico. É inacreditável assistir a Celso Amorim roncar grosso com Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha e afinar com os vizinhos bananeiros.
Mas insistir em elogiar ditaduras contraria a história da grande maioria dos integrantes desse governo. E esses elogios vêm desde o primeiro ano desse governo. É aí que os atos de Lula como chefe de Estado se confundem com aqueles de chefe de Governo. Criar uma candidata à sua sucessão do nada é uma inequívoca demonstração de força, mas esse trabalho caminha paralelo com a conversa de terceiro mandato, que Lula jamais desautoriza expressamente. O deslumbramento de Lula com o poder é evidente, mas passa a ser perigoso quando pode resultar num golpe de forma institucional, através de uma emenda constitucional, obtida através da enlameada relação do governo com sua base no Congresso.
É preciso refletir sobre essa popularidade de Lula e não encará-la como algo resultante apenas de resultados ou de carisma. Todos os governos anteriores enfrentaram dura oposição da CUT, da UNE, do MST, além daquele velho PT que não existe mais. O atual governo eliminou essa oposição de forma absoluta. Sindicalistas se espalham pelo governo e pelas estatais, resultando em situações curiosas, com o mesmo grupo político sentado dos dois lados da mesa. Os investimentos maciços em propaganda e no financiamento de ONGs garantem o controle da base eleitoral, tudo amparado por um gigantesco programa assistencialista chamado Bolsa Família.
Mas o bom senso hoje é tímido. A vergonha tirou férias. E a ética se aposentou. A coerência então, já havia sido morta por Fernando Henrique. Lula fez apenas o seu funeral.

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